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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Otacílio Batista - Meio Século de Viola (1989)


01 meio século de viola
02 muda brasil a tua imagem
03 nós somos todos irmãos
04 mamãe e papai
05 lua divina
06 origem do homem
07 palavras de cristo na areia
08 o direito da mulher
09 praça da paz celestial
10 a viola é meu pão de cada dia



Otacílio Guedes Patriota, mais conhecido como Otacílio Batista, nasceu a 26 de setembro de 1923 em São José do Egyto (PE) e morou na Paraíba desde 1977. Membro de uma família onde contabiliza mais de cem cantores e poetas,  ingressou definitivamente na carreira musical quando fez sua primeira cantoria, na tradicional festa de Reis, realizada em sua cidade natal, no dia 6 de janeiro de 1940.

Numa época em que os repentistas eram mais aventureiros, Otacílio se apresentava por várias cidades do interior nordestino, juntamente com os irmão Lourival e Dimas Batista. Nesse ritmo, rapidamente aprimorou seu trabalho, envolvendo a diversidade de tipos da cantoria com suas sextilhas, “quadrão” em 8 e em 10, martelo agalopado, mote, gemedeira, entre outros.

Por exigência da profissão, as viagens continuaram, mesmo depois que foi morar no Ceará, onde ficou por mais de 20 anos, casando-se com Rosina Freitas, com quem teve 10 filhos. Além das aventuras, a época favorecia também maior atuação dos repentistas nas rádios nordestinas. Em Pernambuco, participou de um programa na Rádio Clube de Pernambuco e também em emissoras de Caruaru, Fortaleza e na Rádio Tabajara de João Pessoa, onde manteve um programa diário durante mais de 10 anos. Otacílio também teve participações na televisão, a exemplo do Som Brasil, apresentado por Rolando Boldrin.

Quando vivia somente de sua arte, Otacílio viajou muito percorrendo o Brasil de ponta a ponta. Esteve também no exterior. Quando em parceria com Oliveira de Panelas foi a Portugal em 1996, a convite do governo português; e a Cuba, quando participou do Festival de Cultura Caribenha, no ano de 1997.

Repentista, escritor e sobretudo poeta, Otacílio registrou sua obra em 9 discos, mais de 10 livros, vários folhetos de cordel, além de ter sido tema em matérias jornalísticas da grande imprensa brasileira, a exemplo do Jornal do Brasil e Folha de São Paulo. No campo literário, considera sua obra mais importante a Antologia Ilustrada dos Cantadores, cuja primeira edição foi lançada em 1976. Esgotado em suas duas edições, o livro consiste numa pesquisa relatando a vida e obra de mais de 300 cantadores de viola.

Otacílio lançou também os livros de poesia Ria até cair de Costa(82), A Criança Abandonada e outros Poemas (83), O Caçador de Veado (87), O Que Me Falta Fazer mais e Outros Poemas(90), Poemas Escolhidos (93); os autobiográficos Os Três Irmãos Cantadores (95) e Dois Poetas do Povo e da Viola – Otacílio Batista e Oliveira de Panelas (96); além dos cordéis Peleja de Otacílio Batista com Zé Ramalho e Peleja de Zé Limeira com João Mandioca, entre outros.

Sua discografia é composta pelos LPs Só Deus Improvisa Mais – Otacílio Batista e Oliveira de Panelas (1976), Otacílio Batista do Pajeú, produzido por Zé Ramalho em 1976, Os Irmãos Batista do Pajeú – Dimas, Otacílio e Lourival, Coletânea de Repentistas (75), Apelo ao Papa (parceria com Pedro Bandeira quando se apresentou na visita de sua Santidade a Fortaleza em 1980), Meio Século de Viola (89).

Confira abaixo o Documentário "A Voz do Uirapuru" sobre a vida e obra de Otacílio Batista.


Depois de ouvir Otacílio Batista cantar durante um festival de violeiros realizado no Rio de Janeiro, o poeta Manuel Bandeira escreveu os seguintes versos:


“Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava cuma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.”