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sábado, 14 de abril de 2012

Sivuca e Duo Ouro Negro - Africanissimo (1959)


  

Lado A

1. Kurikutela
2. Mana Fatita
3. Kangrima
4. Muxima
5. Eh! Sambá
6. Maria Candimba

Lado B

7. Dekhnni
8. Carnaval de Luanda
9. Katéria
10. Minha Mulata
11. Upa Neguinho
12. Singing My Song


  Quando em 59 Sivuca foi demitido da rádio Tupi por aderir a uma greve de reivindicação salarial. Se juntou ao grupo Brasilia Ritmos durante 3 meses. O grande mestre retorna a Europa com o grupo Os Brasileiros. 
Durante a excursão não tornou ao Brasil, e foi contratado por uma boate de Lisboa e lá ficou até o ano seguinte. Residiu em Lisboa durante nove meses e, nessa época, gerou o primeiro disco de música Angolana: "Africaníssimo - Sivuca/Duo Ouro Negro"
Duo Ouro Negro era um grupo musical criado em 1956 na Angola, por Raúl Indipwo e Milo MacMahon.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Zé Ramalho - Por aquelas que foram bem amadas (1984)


1.Paisagem da flor desesperada
2.Dança das luzes
3.Dogmática
4.Mulheres
5.Dupla fantasia
6.Made in PB
7.Frágil
8.O tolo na colina (The full on the hill)
9.Brejo do Cruz
10.Jacarepaguá blues

AfroNordestinas (2012)


faixas:
01 Consciência
02 Corrente do Bem
03 Nego
04 Fiel Escudeiro
05 Essa Luta
06 Quem Sabe Faz
07 Processo Alucinante
08 Mulher
09 Solta a Base
10 Se Tu Acredita
11 Satisfação
12 Idéias Obtidas
13 Na Batida
14 Vai Ficar pra Trás


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tribo Éthnos - Meddrooaavon (2000)

via: http://odhecaton.blogspot.com



A Tribo Éthnos, nascida em 1990 idealizada por Vant Vaz é mais do que uma banda. É um coletivo multimídia, integrando música, artes plásticas, quadrinhos, dança e até moda. Um grupo literalmente ahead of their time, fazendo aquelas misturas quase esquizofrênicas de música indígena, hip-hop, jazz, música erudita, música africana e o que mais você quiser que só iriam aparecer com mais freqüência nesse mundo alguns anos mais pra frente. 


O Meddrooaavon, gravado entre 1996 e 1997 mas só lançado em 2000, é um bom exemplo disso. O CD todo é recheado de uma vibe new age à anos 80 que pode incomodar algumas pessoas, mas mesmo para essas pessoas o CD é recheado de pontos altos. A faixa "Meu Brasil Que Não é Meu" é um fantástico quase-ragga bem pra cima que não é difícil de se imaginar como sendo um daqueles hits alternativos anos 90 que marcam uma geração, se não fosse o boicote quase criminoso à Tribo Éthnos por parte da grande mídia - ainda hoje, 20 anos depois, a Tribo Éthnos é relativamente pouco reconhecida, e tem muita gente que "sabe que existe mas nunca escutou". 


Outro ponto fortíssimo do álbum é a faixa "Euroasioamerindioafricano", que já no título mostra o cosmopolitismo da banda - a música é um canto de capoeira-rap do século 22, a materialização do berimbau elétrico gritado por Chico Science. Aliás, a Tribo de Vant e a Nação de Chico têm muito em comum, a fusão do local com o internacional, a globalização musicada. 


Um detalhe interessante sobre esse CD é a participação do jovem Esmeraldo Marques (mais conhecido hoje como DJ ChicoCorrea) anos antes do surgimento da sua Electronic Band, mas já mostrando aquela boa instiguinha eletrônica que mais de uma década depois ia arrastar tanto pé e tanta cabeça mundo afora.



Tracklist: 

01 - Nova Ordem 
02 - Shainirun 
03 - Catiti & Cairê 
04 - Pitiguartupi 
05 - Canção do Vento 
06 - Euroasioamerindioafricano 
07 - Canto aos Deserdados do Sol 
08 - Fattha 
09 - Sexus 
10 - Meu Brasil Que Não é Meu 
11 - Akushu 
12 - Meigetsu 
13 - Insanniddad 
14 - Rebelião em Robotia 
15 - A Chave de Tudo 
16 - Nahuxa 
17 - Shaya 
18 - Eterno 

As Parêa - As Parêa (2002)





As Parêa é uma banda paraibana criada no final de 1999 que no ano seguinte já estava abrindo shows de Lenine. A contrapartida paraibana do manguebit, uma mistura de música popular com rock digna de Chico Science, rock-cocos, groove-cirandas, funk-bois e todas essas misturas modernosas, mas com o sentimento folclórico fortíssimo, longe de ter sido deturpado. Pra infelicidade geral da nação, a banda encerrou as atividades num último show no centro histórico em maio de 2009. 


O CD homônimo, de 2002, conta com participações e colaborações de grandes músicos paraibanos: Cátia de França, Chico César, Pedro Osmar, Escurinho, ChicoCorrea e vários outros. O resultado é de uma beleza indizível. De fato, é um dos poucos CDs que se pode acrescentar entre os adjetivos, além de "inovador", "criativo", "do caralho" e esses de praxe, um "bonito" bem enfático. 

Tracklist: 

01 - As Parêa Vão Tocar 
02 - Zabé da Louca 
03 - Negro Espírito 
04 - Radical da Química do Prazer 
05 - Dúvida Cruel 
06 - Simbora Zé 
07 - Puxando Grilo / Cyran 
08 - Penerou Gavião 
09 - A Pamonha do Véi Noronha 
10 - Catabi 
11 - Fulô do Mandacaru 
12 - Evolução 
13 - Ecoou 




Cantata Popular 2 (2000)






No mesmo ano que a Cantata Popular I, surge o segundo volume da coletânea, que chegaria a ter três volumes. A estrutura é igual à do número anterior: várias músicas dos mais diversos compositores e grupos paraibanos. Contando com o Quarteto de Trombones de Sandoval de Oliveira até o coletivo de rap Reação da Periferia, esse volume é talvez mais abrangente do que o primeiro. Entre suas faixas se destaca Munganzé, de Cabruêra, que estava apenas começando sua carreira, na iminência de ser internacional. 

Tracklist: 
entre parêntesis, o nome do compositor; fora do parêntesis, o intérprete 

01 - Caaporã (Erick von Sohsten) - Erick von Sohsten 
02 - Patuá no Vaticano (Vitor Góes) - Mônica Melo 
03 - Prateleira de Creme (Léo Almeida/Fabiana Moura) - Léo Almeida 
04 - Essa Miséria Quem Gerou? (Patrícia Moreira) - Patrícia Moreira 
05 - Fruta Flor (Sérgio Túlio) - Sérgio Túlio 
06 - Rio 89 (Zé Filho) - Zé Filho 
07 - Na Área de Cada Um (Mapa/Metralha) - Reação da Periferia 
08 - O Filme (Cacá Santa Cruz) - Cacá Santa Cruz 
09 - A Que o Homem se Destina? (João Jaguaribe) - João Jaguaribe 
10 - Munganzé (Zé Guilherme) - Cabruêra 
11 - Sandegundes (Antônio Benedito de Oliveira) - Quarteto de Trombones 
12 - Cantador de Rua (Dida Fialho) - Dida Fialho 
13 - Louco por Você (Lis/Alberto Arcelo) - Lis 
14 - O Vale da Feira (Zé Wagner/Gillvan de Brito) - Zé Wagner 
15 - Afroamérica (Déo Nunes) - Déo Nunes 
16 - Quase Nada (Lau Siqueira/Erivan Araújo) - Joana Belarmino 
17 - Impressões em Três Momentos (Luis Carlos Otávio Correia) - Coral Voz Ativa 
18 - Resistência (Oliveira de Panelas) - Oliveira de Panelas 
19 - Cantoria (Jailton Paiva) - Jailton Paiva 

Cantata Popular I (2000)





A coletânea Cantata Popular I foi idealizada e realizada por Pedro Osmar em parceria com Heriberto Coelho, do Sebo Cultural. Foi feita quase que como um manifesto de guerrilha cultural, pela necessidade de se registrar e difundir a música que vinha sendo feita. Lançada no ano 2000, é um retrato fiel da música puramente paraibana dos anos 90. 


Entre as faixas, se encontram músicas de Pedro Osmar e Paulo Ró, as mentes por trás do Jaguaribe Carne, Escurinho do tempo da banda Labacé, a faixa Meu Brasil Que Não é Meu da Tribo Éthnos (que já apareceu antes aqui), algumas músicas do Assaltarte, a clássica Deu o Caray de Alex Madureira, um belíssimo samba de Adeildo Vieira e muitas outras que formam uma paisagem sonora paraibana

Pedro Osmar, no encarte do disco, diz: "Junto ao nome do deputado estadual Ricardo Coutinho, candidato a prefeito pelo PT, somado a todos os companheiros da revolução do cotidiano, [Heriberto Coelho] assume a produção militante deste disco junto com os artistas com os artistas comprometidos que fazem hoje a linha de frente da nova música da Paraíba" 

Então nada mais adequado para o primeiro post de 2011, saudando o início do mandato de Ricardo Coutinho como governador do nosso estado do que este manifesto de mais de dez anos atrás pela cultura paraibana. 

Tracklist: 
entre parêntesis, o nome do compositor; fora do parêntesis, o intérprete 

01 - Deu o caray (Alex Madureira) - Alex Madureira 
02 - Branco (Marcos Fonseca) - Soraia Bandeira 
03 - Contos da ôca ôca (Jonathas Falcão) - Glaucia Lima 
04 - Um samba (Wander Farias) - Wander Farias 
05 - Ancestrais (Milton Dornellas) - Milton Dornellas 
06 - Aos que se foram (Pedro Osmar) - Pedro Osmar 
07 - Baticum (Escurinho) - Escurinho 
08 - Carta pra Dionísia (Paulinho Ditarso) - Paulinho Ditarso e Diana Miranda 
09 - Ao rés de mim (Paulo Ró/Águia Mendes) - Paulo Ró 
10 - Quem inventou o samba (Adeildo Vieira) - Adeildo Vieira 
11 - Amo você (João Linhares) - João Linhares 
12 - Variou (Mestre Fuba) - Mestre Fuba 
13 - Boi germinal (Marcos Fonseca) - Marcos Fonseca 
14 - Perdizes (Tatá Almeida/Chiquinho Mino) - Tatá Almeida e Chiquinho Mino 
15 - Mais além (Chico Viola) - Chico Viola 
16 - Meu Brasil (Ratto/Vant) - Tribo Éthnos 
17 - Abraço ao mano (Xisto Medeiros) - Xisto Medeiros 
18 - Metalurgiarte (Gualter Ramalho/Geber Ramalho) Metalúrgica Felipéia 

Brassil - Interpreta Compositores da Paraíba (2008)





Este disco é uma junção de forças. De um lado, o trabalho do Brassil, quinteto de metais formado em 1980 por professores da UFPB, que já tocou em todas as regiões do Brasil e em vários lugares no exterior, tendo tocado desde ao lado de Sivuca e Dominguinhos até Per Brevig e Charles Schlueter. Do outro lado, o COMPOMUS, laboratório de composição da UFPB. Idealizado por Eli-Eri Moura e criado em fevereiro de 2003, o COMPOMUS é uma ferramenta fortíssima para o fomento e a divulgação da música erudita composta na Paraíba. 


Neste disco, o quinteto Brassil interpreta peças compostas por paraibanos, entre os quais peças do próprio Eli-Eri, de Marcílio Onofre, João Orlando, José Alberto Kaplan e do francês radicado na Paraíba Didier Guigue. É um excelente registro da música que vem sendo feita na nossa terra, e que infelizmente ainda tem pouco espaço fora das paredes da universidade. 



E este post ainda fica como homenagem a Radegundis Feitosa, componente do quinteto Brassil, o primeiro doutor em trombone do país, uma das mentes mais brilhantes e divertidas doa UFPB, e que tragicamente faleceu num acidente no meio do ano passado junto aos outros músicos Adenilton França, Roberto Sabino e Luiz Benedito. 



Tracklist: 



01 - Marcílio Onofre - Chamber Echo 
02 - Didier Guigue - Lied 
03 - Paulino Neto - Polycontinuum 
04 - Arimatéia de Melo - Calidoscópio 
05 - Jorge Ribbas - Adriatic Mood 
06 - Eli-Eri Moura - Nouer II 
07 - Wilson Guerreiro - Luares de Intermares 
08 - Ticiano Rocha - Daedalus 
09 - Luiz Carlos Otávio - Perpetuum 
10 - Rogério Borges - Quinteto N.º 1 
11 - J. Orlando Alves - Intensificações 
12 - José Alberto Kaplan - Burlesca 



Componentes do Brassil: 



Ayrton Benck - trompete e flugelhorn 
Gláucio Xavier - trompete e flugelhorn 
Cisneiro Andrade - trompa 
Radegundis Feitosa - trombone 
Valmir Vieira - tuba 



Músicos convidados: 



José Henrique Martins - piano 
Dennis Bulhões - percussão 

Conspiração Apocalipse - Trágica Lógica do Absurdo (2003)






Surgida em algum momento no final dos anos 80 e começo dos anos 90, a Conspiração Apocalipse é talvez uma das primeiras bandas de rock realmente pesado de Cajazeiras. Adotando a estética niilista das bandas de metal e punk da época, as letras botam o dedo e cutucam todas as crecas da sociedade consumista, da alienação, das guerras sem sentido. Nas palavras do próprio baixista: "ninguém sabe quem tocava pior aí, mas não tem uma música ruim". 


A formação da banda nesse disco é Gilberto Álvares na voz, guitarra, violão e teclado, Naldinho Braga no baixo e Fabiano Lira na bateria. Naldinho mais tarde ajudou a formar a banda Tocaia da Paraíba e lançou um cd solo, em estilos completamente diferentes, e Fabiano Lira passou a tocar em várias bandas de João Pessoa – atualmente, além de fazer parte da banda de Naldinho, toca com Procura-se Fabiano. Podiam até não tocar nada na época da Conspiração Apocalipse, mas ela serviu de escola pra que surgisse todo um novo trabalho. Esse disco, gente, é pura história. 



Tracklist: 

01 - Saga Insana 
02 - Modus Vivendi 
03 - Escória dos Deuses 
04 - Espinhos & Rosas 
05 - Meu Mundo 
06 - Utopia 
07 - Bye Mr. Flying 
08 - Vem de Leve 
09 - Yank Vision 
10 - Chacais 
11 - Os Filhos do Caos 
12 - Trágica Lógica do Absurdo 
13 - Meu Lugar Ao Sol 

Didier Guigue - Vox Victimæ (1999)

via: http://odhecaton.blogspot.com




O encarte avisa: "As músicas deste CD evocam utopias bárbaras". Se Pero Vaz de Caminha tivesse um sampler Akai S2000 e um KorgWaveStation A/D, provavelmente seu relato sobre as terras brasileiras seria parecido com esse disco. Didier Guigue é francês, doutor em música e musicologia do século XX, formado em piano e fagote, mestre em Estética, Ciências e Tecnologia das Artes, e veio morar em João Pessoa – hoje é professor da UFPB e faz parte do COMPOMUS, o laboratório de composição da universidade. Chegou trazendo toda a vanguarda da música européia e se deparou com o calor visceral e o movimento da música popular daqui. 

O disco tem uma atmosfera carregada: em meio à música eletroacústica, ao rock progressivo e ao free jazz em um andamento lentíssimo, entram samples de cantos guerreiros xavantes e textos de Saramago, do antropólogo Darcy Ribeiro e de Augusto dos Anjos – Didier foi o primeiro, inclusive na Paraíba, a utilizar Augusto dos Anjos como material de citação musical. É um retrato cyberpunk da sociedade brasileira. 

O disco é dedicado "a todas as vítimas. De ontem, de hoje, daqui e de todos os lugares." 

De bônus, trecho de apresentação de Didier Guigue junto a Babilak Bah, DJ Guirraiz e DJChico Correa no Ciclo das Quartas: 



Tracklist: 

01 - A Cidade Ainda Ali Estava 
02 - Utopia Selvagem 
03 - Ciça de Todos os Caminhos 
04 - A Fome de Lázaro 
05 - Aquele que Ficou Sozinho 
06 - Out of Urop: Parte I 
07 - Out of Urop: Parte II 
08 - Out of Urop: Parte III 
09 - Vox Victimæ: Parte I (Profile to A) 
10 - Vox Victimæ: Parte II (Profiles to B) 

Mamma Jazz - Nôkana Disquicy (2010)





Quando eu entrei na UFPB no ano passado, andando pela Praça da Alegria com o violão, conheci um pessoal do Congo, que se prontificou a se reunir ao meu redor e passar quase uma hora cantando as músicas de seu país num coro africano hipnotizante. Meu único pensamento ao sair de lá era "meu irmão, alguém tem que fazer uma banda com esse pessoal!". E foi quando descobri que essa idéia já tinha sido feita, lá pelo final dos anos 90. Mamma Jazz nasceu de uma conversa entre os músicos Pedro Osmar e o músico guineense Guilherme Semmedo, que resolveram reunir os artistas estrangeiros da UFPB pra que eles pudessem se expressar e se integrar de vez à comunidade paraibana. O resultado encanta qualquer pessoa que tenha pelo menos um gene africano. 


O projeto conta com parcerias como Gláucia Lima, Jorge Negão e Adeildo Vieira, autor de algumas das músicas do disco. As letras passam do português ao crioulo às línguas africanas, o som é suave, cheio de metais, coros de vozes africanas, percussões, lembrando o de grandes músicos africanos como Koffi Olomidé ou Papa Wemba


Aí vai um trecho do show de lançamento desse disco: 




Tracklist: 


01 - Nôkana Disquicy 
02 - Hábraços 
03 - Balôba & Balula 
04 - Nada mudou 
05 - Didi mem 
06 - O Mito 
07 - Lebiscimente - Bang Bang 
08 - Chega Junto 
09 - Fidjo Matcho 
10 - Sufry 
11 - N' Bombô 
12 - N' Rico Pabia 

João Cassiano - Nômade Riddim Vol. 04 (2011)

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Além de seus trabalhos com a ChicoCorrea & Electronic Band e com a Cia. Lunay, Cassiano também tem seu projeto solo de música eletrônica, quando deixa de lado a percussão pela qual é mais conhecido. O projeto é um conjunto de beats eletrônicos sentados ali na fronteira entre o lo-fi e o bem produzido, e entre o experimental e o massificado. Entre uma linha de synths dissonantes e outra, vem uma virada de bateria digna de swingueira. É uma grande compilação em homenagem à música do terceiro mundo, afundado numa espiral de globalização e pobreza, uma homenagem àquelas músicas que são tão marginalizadas quanto o morador da Rocinha no Rio ou do bairro do Rangel de Luanda, do funk carioca ao bhangra à música bérbere eletrônica do Maghreb. É fácil imaginar que a música da série Nômade Riddim, primitiva, repetitiva, hipnótica, poderia ser tocada por tribos africanas de séculos atrás se eles tivessem turntables e synths. É uma rave no deserto do Senegal.

Tracklist:

01 - Amor Tropical
02 - Loa
03 - Wooblezabumba
04 - Lajedo
05 - Boda Boda
06 - Cobra 0.9
07 - As Caveiras Se Levantam (Tututu Riddim)
08 - Sertão

Pedro Osmar e Loop B - Farinha Digital (2007)

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Na música, a maior parte das coisas que deram os resultados mais interessantes surgiram a partir da fusão de elementos contrastantes, muitas vezes até opostos e à primeira vista inconciliáveis. Visto daí, esse disco deve ser uma das obras mais interessantes desse começo de século.

Por um lado, temos Pedro Osmar, paraibano, veterano de música experimental com oJaguaribe Carne, fundado em 1974, um dos primeiros e até hoje ainda poucos praticantes da livre improvisação no estado. Sua especialidade são percussões, violas, violões, a sonoridade acústica da música popular nordestina. Junto a ele, temos Loop B. Paulista, programador de sons, um mestre da música eletrônica, dos samples, do que há de mais moderno em relação à tecnologia musical. Dois perfis aparentemente tão distantes, mas na verdade muito próximos, graças ao prazer pela experimentação. Entre a instrumentação usada por Loop B, além dos xing lings eletrônicos temos uma geladeira, uma furadeira, um bujão, um tanque de chevette (que aparece ligado num pedal delay) cápsulas vazias de balas de canhão, um serrote, um monitor de computador, um painel de carro, uma placa e uma espada de brinquedo.

Entretanto, se você espera um disco barulhento, experimentações que vão longe demais e não chegam em lugar nenhum, aquela excentricidade pelo mero prazer da excentricidade, está enganado. O cuidado com a sonoridade é tão grande que mal dá pra notar que tem um tanque de chevette cantando - algumas músicas quase beiram o easy-listening. Um disco para provar que não necessariamente o que é experimental é barulhento e que nem necessariamente o agradável tem que ser simples e desinteressante - uma concepção comum entre os experimentadores mais brabos.

Tracklist:

01 - Farinha Digital
02 - Ninguém Leva Nada a Sério
03 - Suíte Negona
04 - Racuntá
05 - Que Carro de Boi é Esse?
06 - Nordeste Indiano
07 - Pirão de Viola
08 - Nega Dida
09 - Maracatu Colibri
10 - Tema de Lira
11 - Uma Espada ou Tosse


José Alberto Kaplan e W. J. Solha - Cantata pra Alagamar (1978)

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José Alberto Kaplan foi um compositor argentino naturalizado paraibano que foi um dos principais responsáveis pela formação de inúmeros músicos no estado. Waldemar José Solhaé um escritor, dramaturgo, poeta e artista plástico paulista que também decidiu se instalar definitivamente na Paraíba nos anos 1960. Esses dois foram responsáveis por, em 1978, compor a Cantata pra Alagamar, uma ópera camponesa que, em plena ditadura militar, denunciava a perseguição dos militares contra trabalhadores sem terra da região de Alagamar, entre Salgado de São Félix e Itabaiana, no interior do estado.

O arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires, acompanhava as lutas pela reforma agrária desses camponeses. Kaplan na época era um grande amigo do arcebispo, e por causa da vontade de criar algo que tivesse alguma relevância social em seu meio, inteirou-se da causa e chamou Solha para escrever um libreto sobre o tema. Toda a estética da obra é popular, baseada em ritmos e gêneros populares - a começar pelos versos, que incorporam gêneros de poesia popular como o martelo agalopado e a gemedeira. Devido ao seu caráter político, a cantata não poderia ser apresentada em teatros, pois seria barrada pela censura - a solução foi apresentar em igrejas. Ao apresentarem a obra em Itabaiana, onde acontece a história, a polícia cercou a igreja onde acontecia a performance mas não conseguiu frear o ânimo do povo que aplaudia de pé. O próprio papa João Paulo II, em sua visita ao Brasil em 1980, ia ver a peça, mas chegou convenientemente atrasado ao descobrir dos temas que tratava.

Tracklist:

01 - Cantata pra Alagamar

Milton Dornellas - Sete Mares (2000)

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Milton Dornellas é um carioca que chegou em João Pessoa em 1973, aos 14 anos, e se tornou uma das figuras mais importantes da cultura paraibana - tanto que em 2009 recebeu o título de cidadão pessoense. A partir da década de 80, Milton começou a se integrar ao cenário musical da cidade. Juntou-se a Pedro OsmarPaulo RóAdeíldo VieiraTotonho e outros músicos da época e fundou o Musiclube da Paraíba, um grupo que impulsionou imensamente a produção musical paraibana. Colaborou com grupos como Jaguaribe Carne, fundou o grupo Etnia e, junto a Xisto Medeiros e Marcos Fonseca, fez parte do projeto Assaltarte, que levou a música paraibana para os bairros mais remotos da capital em apresentações relâmpago.

Além disso, Milton também tem vários discos de suas próprias composições. Sete Mares, de 2000, é um disco quase conceitual, com músicas de temas bucólicos. Um espirito de simplicidade, aquela coisa da música folclórica, paira por todo o disco, que conta com composições de Milton em parceria com Pedro Osmar, Chico César, Totonho e vários outros nomes importantes da música paraibana.

Tracklist:

01 - Sete Mares
02 - Pernas e Bocas
03 - Lual
04 - Mar de Dentro
05 - Mural
06 - Lembrete
07 - Berço das Pedras
08 - Flamboyant
09 - Soma
10 - Dona Mariana
11 - Quer Dançar
12 - Da Roupa a Renda

Metal Brain - The Core of Life (1996)

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Metal Brain começou em novembro de 1991, como uma Metallica Cover, e assim permaneceu até 1994. O baixista Elyzomar Braga e o vocalista e guitarrista Kléber Alexandre, que são de Cajazeiras, faziam parte da Conspiração Apocalipse, uma das primeiras bandas de rock a vir do sertão. Quando a Apocalipse veio tocar no SESC, o caminho estava aberto para os meninos (além desses dois, havia o baterista Marcus Vinicius e o guitarrista Walter Guimarães). Em 1995, eles entram em reclusão para ressurgir no ano seguinte com um CD pronto, o The Core of Life. A produção impressionava para uma banda paraibana: o CD foi feito pela Sonopress, agenciada pela MCK, gravado no SG Studio de João Pessoa, e vinha completo com encarte em inglês – buscando um público internacional. Não só, a Metal Brain inovou ao ser uma das primeiras bandas, em plenos anos 90, a disponibilizar o CD inteiro para download na internet, naqueles precários sites de mp3 em que cada musica vinha compactada e você tinha que baixar uma por uma. A banda terminou em 2000, segundo o site oficial devido a uma estagnação do cenário do rock. Um segundo CD, Lost in Time, estava sendo planejado, mas nunca saiu. 

Escutando o The Core of Life, você esquece que é uma banda paraibana dos anos 90. Os vocais em inglês, que muitas vezes traem a origem dos integrantes, funcionam perfeitamente, e a competência dos músicos é comparável à de seus ídolos Metallica, Megadeth, Sepultura... Serve pra nos lembrar de vez em quando que a Paraíba tem uma diversidade musical maior do que se pode pensar, e que é possível fazer metal de qualidade. Indispensável pra headbangers nordestinos – e do mundo todo. 

01 - The Core of Life 
02 - Night Escape 
03 - The Obscure 
04 - Life and its Lies 
05 - Dirty Religions 
06 - Neverland 
07 - War Film 
08 - Christ's Lips 
09 - Kill or Die 
10 - Dream